Nos últimos anos, os investimentos em Corporate Venture Capital (CVC) têm caído consideravelmente e o setor enfrenta um momento desafiador, especialmente na América Latina. Segundo dados de uma pesquisa realizada pela Sling Hub, o volume de investimentos em CVC na região foi de US$ 267 milhões, uma queda de 49% na comparação com o primeiro trimestre de 2024. Mas se o apetite por inovação e avanços tecnológicos continua em alta, como explicar esse declínio nas rodadas de investimentos?
A América Latina viveu um boom de investimentos de grandes companhias em startups, sobretudo envolvendo fintechs, agritechs e healthtechs, que atuam em setores particularmente estratégicos e com alto potencial de escalabilidade no longo prazo. Porém, o cenário de bonança passou e o que vemos hoje é uma transformação do mercado: da euforia para uma criticidade maior no momento de investir. Acredito que esse movimento se deve ao aumento da maturidade das empresas, que precisam entregar impacto real ao negócio em detrimento de especulações financeiras.
Essa conjunção de fatores somados às incertezas econômicas fizeram com que as companhias pisassem no freio e adotassem um posicionamento mais cauteloso, mitigando riscos e investindo realmente em startups que estejam alinhadas ao seu modelo de negócio e proposta de valor. Apesar dos desafios, vejo a maturidade e a consolidação do mercado de CVC brasileiro com bastante otimismo. Passada a fase de grandes aportes, estamos vivendo um momento de maior seletividade, o que contribui para resultados mais consistentes e duradouros.
Como exemplo, menciono a Embraer Ventures e a Petrobras, que fizeram investimentos focados em startups de energia e mostraram, na prática, como empresas com mais de 50 anos de existência podem se beneficiar em fazer parte do ecossistema de startups. Muito mais do que ganhos financeiros, esse movimento trouxe ganhos práticos com mais inovação, agilidade e avanços tecnológicos, permitindo manter a liderança em seus setores de atuação. Inclusive, o Brasil continua sendo um dos protagonistas em CVC na América Latina, com 48% de rodadas de investimentos com participação corporativa. Como principais investidores, destacam-se Itaú, Telefônica, Grupo Globo, Prosus e BBVA.
Como tendência para os próximos anos, acredito que as empresas continuarão sendo rigorosas e fazendo escolhas criteriosas na hora de investir, em busca de retornos mais sustentáveis. Deve crescer também a adoção de modelos híbridos de inovação, como o Corporate Venture Building, que estimula a criação de startups internas por grandes corporações. Já vemos essa abordagem sendo aplicada no Brasil, com exemplos como o Inovabra, do Bradesco, e o Votorantim Labs, da Votorantim.
Os maiores ganhos são o maior alinhamento e conhecimento profundo do negócio da empresa, além da possibilidade de fazer um spin-off, caso a iniciativa seja bem-sucedida. Outra tendência na região são os M&As que continuam acontecendo. Foram 54 operações realizadas no primeiro trimestre de 2025, sendo que deste total, 38 foram feitas no Brasil, como os casos da VTEX, Evertec, Sorenson e Grupo Globo.
Outro ponto que vejo como fundamental para o sucesso e perenidade do CVC no Brasil são as parcerias de grandes empresas com universidades e instituições de pesquisa a fim de angariar novos talentos altamente especializados e estar atualizada com as últimas inovações e tendências. Essa conexão entre o mercado corporativo e o acadêmico é muito importante para o desenvolvimento de soluções que atendam às demandas reais da sociedade e para a criação de ecossistemas realmente inovadores. Independentemente das adversidades e desafios, acredito que os investimentos em tecnologia e inovação continuarão sendo uma das principais prioridades e diferenciais competitivos das empresas.
Publicado originalmente em Época Negócios.