O desenvolvimento econômico de uma região pode ser impulsionado de forma significativa por um ecossistema de inovação saudável, e as startups desempenham um papel central nesse processo. Ao investir na aceleração de startups, é possível não apenas estimular o crescimento dessas empresas, mas também gerar efeitos positivos em todo o ecossistema. Vamos explorar o impacto que esse investimento pode ter, tomando como base um cenário hipotético no Nordeste do Brasil elaborado pelo time do LightHouse Investimento de Salvador (BA) e os casos bem-sucedidos de Florianópolis, Boulder, Vale do Silício e Berlim.
O cenário do Nordeste: um estudo hipotético de impacto econômico
O cenário elaborado pela LightHouse Investimento inicia pelo potencial de alocar R$ 200 milhões em startups do Nordeste por meio de dois Fundos de Investimento em Participações (FIPs), ao longo de um ciclo de 10 anos. Com esse investimento, a expectativa é acelerar 300 startups e investir diretamente em 50 delas.
As projeções indicam que esse investimento poderia ter um impacto transformador no ecossistema da região. Com base em um crescimento anual composto (CAGR) de 30% no faturamento das startups, e considerando uma média de contratações de 4 pessoas por startup ano, o resultado ao final de 10 anos seria a criação de 44 mil empregos diretos. Com um salário médio de R$ 5 mil por colaborador, a geração de renda alcançaria R$ 2,8 bilhões. Além disso, o faturamento das startups ao longo desse período poderia atingir coletivamente R$ 6 bilhões.
O impacto econômico total, incluindo efeitos diretos e indiretos, chegaria a R$ 19,6 bilhões. Esse crescimento não se deve apenas ao sucesso das startups aceleradas, mas também ao impacto positivo na cadeia de inovação e nas empresas que se beneficiam do ecossistema. O retorno para o FIP, estimado em R$ 1 bilhão, demonstra que o investimento em startups é financeiramente viável e altamente rentável.
A força da aceleração: taxa de sobrevivência das startups
Importante notar que nos resultados acima, considera-se o efeito significativo que a aceleração de startups tem sobre a taxa de sobrevivência dessas empresas. De acordo com estudos como o da Seed-DB e do CB Insights, a taxa de sobrevivência de startups é de apenas 20% sem aceleração, mas aumenta para 50% quando participam de programas de aceleração. Isso evidencia a importância de investir em startups e programas de aceleração, pois contribuem diretamente para a criação de empresas mais resilientes e inovadoras.
Exemplos reais de impacto em ecossistemas inovadores
Florianópolis: de capital turística a polo de inovação
Florianópolis, também conhecida como a “Ilha do Silício”, é um exemplo claro de como o investimento em startups pode transformar a economia de uma região. Há 15 anos, a cidade era conhecida principalmente por sua vocação turística. Hoje, graças a programas de capacitação, como do Sebrae local pelo programa Startup SC, e programas de aceleração como o da Darwin Startups, Florianópolis tornou-se um dos principais pólos de tecnologia e inovação do Brasil. Atualmente, o setor de tecnologia é responsável por mais de 25% do PIB da cidade, gerando empregos de alta qualificação e atraindo investimentos nacionais e internacionais.
Boulder, Colorado: o papel de aceleradoras no crescimento regional
Boulder, no Colorado, é outro exemplo de sucesso. A cidade transformou-se em um dos principais hubs de startups dos Estados Unidos, em grande parte graças ao programa de aceleração Techstars, que foi fundado lá em 2006. Hoje, Boulder tem a maior densidade de startups per capita do país. A cidade atrai talentos e investimentos, resultando em um crescimento econômico sustentável e na geração de empregos qualificados. O exemplo de Boulder mostra como uma comunidade colaborativa e programas de aceleração podem gerar um impacto duradouro.
Vale do Silício: o berço da inovação global
Nenhuma discussão sobre ecossistemas de inovação estaria completa sem mencionar o Vale do Silício. Com mais de 50 anos de história, a região se consolidou como o principal polo de startups e tecnologia do mundo. O sucesso do Vale do Silício foi impulsionado por uma combinação de fatores, como a presença de universidades de ponta, investidores de capital de risco e um ambiente de colaboração e inovação – além das melhores aceleradoras do planeta, como Y Combinator e 500 Startups. Hoje, o Vale é responsável por abrigar algumas das maiores empresas de tecnologia do mundo e continua sendo o epicentro global de startups.
Berlim: uma cidade antiga que se reinventou pela inovação
A capital alemã, antes conhecida por sua indústria tradicional, tornou-se um dos principais pólos de startups da Europa. Com mais de 3 mil startups ativas, Berlim atraiu mais de 4,5 bilhões de euros em investimentos de capital de risco nos últimos anos. A cidade destaca-se por sua diversidade, cultura de inovação e qualidade de vida, elementos que criaram um ecossistema vibrante e em constante crescimento.
Acelerar startups é acelerar a economia
Os exemplos de Florianópolis, Boulder, Vale do Silício e Berlim, juntamente com o cenário hipotético do Nordeste, ilustram o poder transformador que as startups podem ter na criação de ecossistemas de inovação e no desenvolvimento econômico de uma região. Investir em startups e programas de aceleração é uma estratégia eficaz para impulsionar a geração de empregos, aumentar a renda e criar oportunidades de crescimento sustentável.
O impacto positivo é claro: programas de aceleração não apenas fornecem o suporte necessário para que startups prosperem, mas também geram efeitos multiplicadores que beneficiam a economia e a sociedade como um todo. Com políticas de incentivo e investimentos estratégicos, outras regiões podem seguir o mesmo caminho e transformar-se em pólos de inovação e desenvolvimento.
*Colaboraram na produção deste artigo:
Emília Chagas, diretora de inovação e aceleração na Darwin Startups e Gustavo Menezes, partner na Lighthouse Investimento & Inovação.