Provavelmente você já ouviu falar em fintechs no Brasil. São startups da área financeira que usam a tecnologia de forma intensiva para oferecer serviços especializados, com diversos benefícios tanto para os usuários quanto para o sistema financeiro do país como um todo.
Elas chegaram há poucos anos e, no começo, incomodaram demais as empresas estabelecidas no setor, ou seja, os grandes bancos. O crescimento foi rápido, e influenciado por novas regulamentações somente entre 2016 e 2022 surgiram 513 novas startups do setor financeiro. Já são 1.289 fintechs atuando no Brasil, segundo dados do estudo Inside Fintech da consultoria de inovação aberta Distrito. Com isso, a forma como essas empresas se relacionam no mercado também foi mudando.
Neste post vamos mostrar como tem se dado esse desenvolvimento e quais são os benefícios que isso gera para os usuários. Acompanhe:
- O que é uma fintech?
- Perfil das fintechs
- Atuação e evolução das fintechs no Brasil
- Crescimento das fintechs de crédito no Brasil
- Regulação das Fintechs
- Quais são os benefícios para os usuários de produtos financeiros?
- Onda de demissões nas fintechs
As fintechs no Brasil
O que é uma fintech?
Em primeiro lugar, é importante entendermos o que são exatamente as fintechs. Segundo a Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs), são aquelas empresas que usam tecnologia de forma intensiva para oferecer produtos na área de serviços financeiros de uma forma inovadora, sempre focada na experiência e necessidade do usuário.
Elas adotam modelos de negócio escaláveis e focam na inovação de produtos e serviços para atender uma necessidade específica do cliente.
É comum confundir startups com fintechs. Para você entender a diferença é simples: as startups são modelos de negócios inovadores, fortemente apoiados na tecnologia, com baixo custo, imersos em uma dinâmica de crescimento escalável e costumam atingir um segmento tradicional como um furacão. Dessa forma, é possível reinventar serviços, desburocratizar processos e tornar produtos mais baratos aos consumidores. Podemos dizer que as fintechs são uma espécie de evolução das startups do setor financeiro.
Tipos de fintechs
Conheça abaixo os principais tipos de fintechs que surgiram ao longo dos anos no Brasil:
- Fintechs de pagamento: surgiram para facilitar nossa vida quando o assunto é compra e venda. Podem oferecer novidades em cartões de crédito ou máquinas de cartão, por exemplo;
- Fintechs de crédito ou empréstimo: possuem estrutura enxuta e realizam análise de crédito a partir de soluções tecnológicas para melhorar a dinâmica dos serviços financeiros;
- Fintechs de crowdfunding: facilitam o processo de financiamento coletivo;
- Fintechs de Bitcoins: facilitam as transações dos investidores em criptomoedas;
- Fintechs de controle financeiro: organizam as finanças, como controle de gastos por exemplo;
- Fintechs de investimento: oferecem facilidade na hora de fazer investimentos.
A atuação e evolução das fintechs no Brasil
As primeiras fintechs surgiram no país em 2013, já trazendo modelos inovadores, de baixo custo e com distribuição digital, totalmente focadas em reformular a experiência do cliente.
Ao olhar para os números, vemos uma redução no número de startups a partir de 2021. Esse cenário se dá por conta da maior complexidade de identificar startups ainda muito jovens, cujas marcas ainda não são muito conhecidas nos mercados em que atuam e que, muitas vezes, ainda não validaram suas teses iniciais. Acompanhe*:
Número de fintechs por conjunto de anos:
- Antes de 2000: 20
- 2000 – 2010: 144
- 2011 – 2015: 306
- 2016 – 2022: 819
Hoje, ao todo hoje no Brasil são 1.289 fintechs atuando.
Com o surgimento dessas startups focadas no mercado financeiro, veio também a ABFintechs, uma associação criada para atender às demandas dessas empresas, sendo responsável por representar os interesses das fintechs, atuando como interlocutora junto a órgãos governamentais e reguladores e, principalmente, gerando negócios para que os associados se fortaleçam e possam prosperar em suas atividades.
O Distrito Fintech Report 2022, elegeu o top 10 de destaques do setor em 2021, levando em conta diversos fatores do estado atual e do crescimento da startup. Vale ressaltar que, o score é baseado em dados da própria base da Distrito e da base de terceiros, logo a falta dos mesmos têm grande influência na classificação final. Confira abaixo a lista:
- Nubank
- PicPay
- PagSeguro
- Neon
- Creditas
- Agibank
- C6 Bank
- Ebanx
- Pravaler
- Mercado Bitcoin
A chegada dessas empresas “chacoalhou” o mercado e assustou os grandes bancos, que trabalham com bases elevadas de clientes e uma extensa oferta de produtos, sem uma especialização.
Com o amadurecimento do mercado, os próprios bancos entenderam que teriam que mudar sua forma de atuação e passaram a desenvolver alguns serviços com os mesmos princípios das startups ou se associaram a várias delas, partindo de que essa parceria poderia ser benéfica para todos.
Essas mudanças devem se intensificar ainda mais, com a tendência do Open Banking, que está fazendo com que as instituições se adaptem para um compartilhamento facilitado de dados dos clientes e possível melhora na oferta de produtos e serviços.
* segundo o Fintech Report 2022 da Distrito com dados até 31 de março de 2022.
Fintechs em Números
A América Latina tem se destacado cada vez mais aos olhos do mundo e, neste contexto o Brasil é protagonista: dos US$ 9,4 bilhões investidos em startups brasileiras no último ano, 40% foram destinados às fintechs. Só em 2022 já foram realizados 40 investimentos totalizando mais de US$ 1 bilhão.
Em relação às fusões e aquisições, só em 2021 foram realizadas 64 e em 2022 (até 31 de março) já foram realizadas 18.
BAIXE ESTE INFOGRÁFICO e confira a evolução do ecossistema de fintechs no Brasil ao longo dos últimos anos e o que vem por aí.
Perfil das Fintechs
Ainda segundo estatísticas gerais do ecossistema, segundo o Distrito Fintech Report, o ecossistema brasileiro de fintechs é um dos mais diversos e bem-sucedido. Confira os principais pontos do perfil das fintechs do Brasil em 2021:
Maioria das fintechs estão sediadas na região Sudeste
Atualmente, temos fintechs atuando em todas as regiões do Brasil, mas há um cenário de concentração acentuado na região Sudeste (72,9%).
Distribuição equilibrada
Há uma distribuição relativamente equilibrada quando se divide as startups por categorias de atuação. Confira os cinco principais segmentos:
- Crédito (17,5%);
- Meios de pagamento (14,4%);
- Backoffice (14,2%);
- Serviços Digitais (8,9%);
- Tecnologia (8,6%).
Transversalidade
Devido à velocidade de inovação das startups do setor financeiro, elas apresentam uma gama cada vez mais completa de soluções que os diferentes players oferecem aos consumidores, expandindo sua atuação para além dos seus domínios tradicionais. A Ebanx, por exemplo, atua hoje no segmento de crédito, conta digital, seguros, meios de pagamento e investimentos.
Foco no B2B
Pouco mais da metade do ecossistema de fintechs é constituído por soluções em tecnologia financeira exclusivamente para outras empresas, em um modelo B2B.
Crescimento das fintechs de crédito no Brasil
O Banco Central anunciou que, desde que entraram em vigor as normas que tratam da regulamentação de fintechs de crédito no Brasil (em pouco mais de dois anos), já autorizou o funcionamento de 30 delas. Sendo 24 Sociedades de Crédito Direto (SCD) e 6 Sociedades de Empréstimo entre Pessoas (SEP).
A SCD realiza operações de crédito com recursos próprios e está autorizada a prestar outros serviços adicionais, inclusive a outras instituições financeiras e não financeiras, como análise e cobrança de operações de crédito e a revenda de seguros relacionados com as operações realizadas com seus clientes. Já a SEP, possibilita as transações peer-to-peer lending, que é uma transação financeira na qual os recursos recebidos dos credores são direcionados diretamente aos devedores, após negociação ocorrida em plataforma eletrônica.
Em comum entre essas empresas, além da promessa de prestação de serviços diferenciados e a custos mais reduzidos, está a utilização exclusiva de plataforma eletrônica e o uso intensivo e inovador de tecnologia.
Segundo Daniel Villano, do Departamento de Competição e de Estrutura do Mercado Financeiro do Banco Central:
“O BC está observando atentamente a ‘franja competitiva’ do mercado de crédito brasileiro, a fim de estabelecer condições equitativas para segmentos com potencial competitivo diferenciado ou disruptivo, como é o caso das fintechs de crédito, novas instituições que podem resultar em mais acesso ao crédito para segmentos de clientes não atendidos por instituições financeiras (IFs) tradicionais”.
Parte do segmento bancário já está incorporando os padrões de acesso, custos e estrutura operacional das fintechs, migrando para modelos semelhantes ou se constituindo, desde a autorização inicial, no formato de banco digital, integrado com as novas tecnologias de acesso, transmissão, processamento e armazenamento de dados e de processos e gestão.
Mardilson Queiroz, consultor do Departamento de Regulação do Sistema Financeiro do BC, acredita que as SEP e SCD tendem a adquirir cada vez mais importância no Sistema Financeiro Nacional. Uma vez que, essas fintechs de crédito, adotam um formato menos burocrático e com condições mais adequadas aos interesses das micro e pequenas empresas.
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Fintechs de Crédito em números
A categoria de crédito é altamente representativa no ecossistema, fato explicado pelas árduas condições do crédito no país, o que gerou margem para as startups oferecerem suas soluções inovadoras e, decorrentemente, melhores condições — cenário que trouxe diversas incumbentes nessa categoria, cada qual com sua especialidade. Segundo relatório do setor:
- Já existem 225 fintechs de crédito no Brasil, representando 17,5% de todo o ecossistema de fintechs, que totaliza 1.289 empresas;
- Elas atraíram mais de US$ 726,6 milhões em investimentos em 2021 e 2022 (até 31/03/2022);
Confira os picos de investimentos:
- 2017 – US$ 135,5 milhões
- 2019 – US$ 299,6 milhões
- 2020 – US$ 345,5 milhões
- 2021/2022 – US$ 726,6 milhões
É provável que o boom de investimentos no setor esteja diretamente relacionado à implementação do open banking no Brasil. Com início em 2018, o sistema, de acordo com o Banco Central, surge para estimular a competitividade entre instituições e tende a se traduzir em serviços financeiros mais baratos e melhores.
Regulação das Fintechs
Na sexta-feira (11/03/2022) o Banco Central publicou as novas regras para as instituições de pagamento — grupo do qual boa parte das fintechs faz parte. A partir de 2023, elas terão que cumprir exigências proporcionais ao seu porte e complexidade. Isso significa, na prática, que as maiores fintechs do País — como Nubank, PagSeguro e Stone — precisarão seguir regras aplicáveis aos “bancões”.
As instituições de pagamento estavam sujeitas a regras muito mais brandas do que os grandes bancos. Agora, com o objetivo de adequar o requerimento de capital mínimo de cada instituição aos seus riscos intrínsecos, de acordo com as novas regras do BC, tanto as instituições de pagamento quanto as instituições financeiras serão divididas em três tipos de conglomerados prudenciais, sendo:
- Das controladas por instituições financeiras (tipo 1);
- Das controladas por instituição de pagamento e não integradas a uma instituição financeira (tipo 2);
- Das controladas por instituição de pagamento e integradas a uma instituição financeira (tipo 3).
A principal preocupação em relação à nova regulação diz respeito ao efeito que ela pode ter sobre a abertura de novas fintechs, mas o BC buscou tranquilizar o mercado afirmando que: “para manter a porta aberta a novos participantes, as regras preservam tratamento simplificado e requerimentos mais fáceis para novos entrantes que tendem a trazer produtos e serviços inovadores”.
As novas regras ainda precisam passar por votação no Conselho Monetário Nacional (CMN) e deverão ser implementadas de forma gradual entre 2023 e 2025. Segundo o BC, esse prazo é suficiente para que as instituições adequem seus controles internos e ajustem sua estrutura patrimonial.
Quais são os benefícios para os usuários de produtos financeiros?
Os usuários são os que mais têm a ganhar com o avanço das fintechs. Veja a seguir alguns dos benefícios que elas proporcionam.
Menos burocracia
Com tecnologia avançada, a imensa maioria das fintechs busca reduzir ao mínimo possível a burocracia que o usuário precisa enfrentar. Assim, documentação e papelada são substituídas por meios eletrônicos dando agilidade aos processos.
Especialização
Não dá para ser especializado em tudo. Assim, um grande banco não consegue ter a melhor oferta de seguros, a prateleira de investimentos mais diversificada, as melhores taxas de juros para crédito e assim por diante. Uma empresa especialista em um único ramo, no entanto, pode focar em ser a melhor naquilo que faz.
Tecnologia avançada
As fintechs já nasceram em uma era de alta tecnologia e surgiram com o propósito específico de prover aquele serviço. Assim, todo o desenvolvimento se voltou para isso, com o melhor que a tecnologia tem a oferecer, sem “puxadinhos” para acomodar sistemas anteriores. Com isso, os clientes conseguem resolver quase tudo online sem abrir mão da segurança.
Além desses benefícios, as fintechs trazem serviços que inovam o setor com novas soluções e costumam oferecer esses serviços com preços mais baixos, sem abrir mão da qualidade.
Onda de demissões nas fintechs
Na última década, os investimentos em startups no Brasil cresceram mais de 60 vezes, refletindo um cenário de oferta generosa de capital, inovação tecnológica e regulatória, além da rápida penetração de serviços online, acelerados pela pandemia.
Neste ano, com bancos centrais no mundo deixando os estímulos dos últimos dois anos para passar a conter o maior surto de inflação em quatro décadas. Na prática, com a mudança do cenário macroeconômico, conseguir novos aportes de investidores se tornou mais difícil e, para melhorar o caixa, os cortes de colaboradores se tornaram mais frequentes.
De acordo com dados do site colaborativo Layoffs Brasil, com atualizações feitas pelo E-Investidor, aproximadamente 955 profissionais de fintechs, corretoras, researchs e plataformas de educação financeira foram demitidos em 2022 no Brasil.
Na visão de Amure Pinho, fundador do Investidores.vc, plataforma de investimento-anjo, as demissões tendem a parar quando as startups equalizarem as expectativas de queima de caixa com o tempo que elas conseguem permanecer operantes com o valor disponível. De acordo com o executivo, o período mais crítico será nos próximos 12 a 18 meses, mas que essa onda de demissões deve acabar antes, pois ele afirma ser uma movimentação de 2022.
Assim, vimos que o ecossistema das fintechs no Brasil está em constante evolução e amadurecimento, mesmo em momentos de crise, uma vez que, evoluem de diversas formas, tanto no relacionamento com o mercado quanto nos serviços que prestam aos clientes, gerando enormes benefícios a todos.
E você, o que pensa sobre esse mercado? Deixe seu comentário e conte para a gente!